A Biblioteca Escolar 2.0 (Formação presencial e on-line)
Quando decidi frequentar esta ação
nesta área específica da Biblioteca Escolar fi-lo com a consciência de que
empreenderia um caminho que me obrigaria a um investimento considerável do
ponto de vista pessoal e profissional, facto que me deixou algo apreensiva. As
razões de tal facto prendem-se com as variadas experiências que tenho tido ao
longo da minha vida profissional e pessoal com as tecnologias da informação e
os sucessos e percalços que a ela têm estado associados. O meu meio século de
existência permitiu-me acompanhar o evoluir dessa maravilha que são as
tecnologias da informação e comunicação, desde os tempos dos quilómetros de
fios nos andares refrigerados da Rádio Marconi, que tinha então o monopólio das
transmissões civis, sediada próximo do Mercado da Ribeira. Tinha, então, 15
anos e, para a área em que estudava, deveria conhecer o então centro nevrálgico
das telecomunicações nacionais.
Mal sabia eu que aquela visita
de estudo tinha sido apenas o aperitivo para o novo caminho que a minha geração
teria de percorrer ao longo da vida. Às vezes penso nisso e tomo consciência de
que a minha inquietação começou muito cedo. Talvez demais.
Em 1981, na Faculdade de
Letras, no meu 3º ano de curso e numa cadeira perfeitamente esperada, Sintaxe e Semântica do Português,
Chomsky e as suas arqui-estruturas da linguagem, a lógica de predicados e
muitos outros conceitos perseguiam, para nosso espanto, a nossa inconfundível
Professora que preparava o Doutoramento na área da Linguística e Computação.
Conversávamos sobre tal fenómeno e do seu objetivo em pôr um computador a
“falar” ou, como nós ríamos, a dizer “Gugugaga”. A organização das estruturas
de significação, os níveis de realização e a lógica dessas mesmas estruturas
foram trabalhadas até à exaustão e todos nos sentimos participantes do projeto
idealista daquela doutoranda magrinha, fumadora compulsiva e cujos vestígios do
vício enfeitavam a secretária como um campo de “piriscas semeadas” na madeira. Afinal, tratava-se de encontrar uma
gramática que pudesse contribuir para pôr um computador a falar!
No Técnico (IST), os colegas
usavam uns cartões estranhos, perfurados, que nunca percebi muito bem para que
efetivamente serviam. De facto, estávamos mesmo muito longe do mundo de hoje! A
diversidade, a transversalidade do uso de tudo (software, hardware…) fazem parecer os nossos organigramas
desenhados a régua com tanto esmero autênticos gatafunhos rupestres.
Não, agora só não aprende quem
não quiser ou não puder! Há já vários anos que se vem investindo em formação
(paupérrima no início) e em equipamentos (um computador por escola, quando
calhava). Existiram o Instituto de Tecnologia Educativa e os seus especialistas,
a Tele-Escola, o Projeto Minerva e… as coisas foram crescendo. Gradualmente, os
projetores de slides, os projetores
de opacos, os retroprojetores de transparências ou acetatos, os vídeos
caseiros, que nos levaram horas de formação, foram sendo ultrapassados por
meios que propiciam outro tipo de relação mais rápida, mais eficaz, mais
abrangente.
Tudo correu e continua a
decorrer a uma velocidade tão estonteante que o mundo que se vai abrindo,
criando e impondo-se-nos todos os dias me obrigou ao desafio desta formação.
Os
conceitos associados ao novo modo de entender a Web, como por exemplo, a maior
liberdade de escolha, a personalização dos meios e da interação que proporcionam,
as novas oportunidades de perscrutação, a maior possibilidade de colaboração,
partilha e envolvimento, a componente de entretenimento imediato que proporciona
a par da inovação permanente foram aspetos que encontraram eco nos múltiplos
documentos, aplicativos, tarefas, visualizações e experimentações que foi
possível realizar ao longo destas sessões de trabalho.
O
conhecimento atual já se não pode guardar num edifício como outrora, ele é
abundante, em evolução constante, está em múltiplos suportes e espaços de organização e disseminação tão diversos,
exige processos rápidos de produção e distribuição, exige obviamente
aprendizagem permanente.
Tudo
isto fez desenvolver interfaces
ricas e fáceis de usar cujo sucesso do aplicativo depende do maior número de
utilizadores; têm, por isso, de ter uma estrutura participativa de modo a incentivar
os utilizadores a participar nas redes de informação, enriquecendo o sistema;
por outro lado, dada a quantidade de informação acessível, é imperiosa uma maior
facilidade de armazenamento de dados e criação de conteúdo. É este o mundo que
se abre todos os dias, é o mundo da Web 2.0.
Naturalmente
que se colocam questões relacionadas com o software, mas estes
ultrapassam-se, pois o modo como o conhecimento está organizado, os sítios e o
software estão ligados sob a forma de mashups, e isso obvia qualquer
dificuldade. Os aplicativos e os conteúdos ao estarem disponíveis quer online
quer offline também facilitam o momento e a forma de exportação.
Inerente ao conceito de Web 2.0 e por
consequência BE 2.0 está a existência de grandes comunidades de interesses que,
colaborativamente, mudaram a forma de aprender e, obviamente, de ensinar.
Todos, e também alunos e professores, podem aceder em simultâneo aos mesmos
conteúdos, bastando conhecer minimamente algo da semântica da Web.
Em contexto educativo, são tão claras
as vantagens destas ferramentas, conteúdos, atitudes que quase não vale a pena
dizê-lo. Se já tinha amigos alunos no Facebook
com os quais conversava, por vezes sobre a matéria, fazê-lo de modo organizado,
estimulando o surgimento de pequenos grupos, faz mais sentido. Transportar esse
trabalho para outro patamar mais ambicioso, criar situações de aprendizagem
estimulantes, dentro e fora da sala de aula, exercitar as ferramentas
aprendidas (foram tantas…) e pô-las ao dispor da aprendizagem (no mais amplo
sentido do termo) dos nossos alunos, dos nossos colegas, da comunidade … é o
que se pode esperar como corolário deste percurso.
Alguns já fazem parte da nossa prática
diária (uso do moodle, de redes
sociais –facebook - blogues, slideshare, entre muitos outros), mas
muito há para fazer.
Tudo
tem evoluído em catadupa, sem que nem todos tenhamos tempo, capacidade,
condições para acompanhar esta grande revolução. Afinal, a idade vai pesando, a
profissão vai convivendo com a desilusão e o agravamento das condições de
trabalho de tal modo que para um não nativo digital como eu, as coisas são por
vezes difíceis. Mas, como diz o cantor, “há sempre alguém que resiste” e nisso,
afirmo sem pudor, sou doutorada. Aliás, a nossa geração é especialista em estar
em aprendizagem permanente.
Mas, de facto, houve descobertas,
aprendizagens muito importantes que ocorreram e dessas jamais me esquecerei. E as
mais importantes foram as perspetivas que se alargaram e as janelas que se
abriram para outros voos. Porque, recriando um dizer de Mia Couto:
“Burro
velho às vezes aprende línguas”
Desditado Popular
E eu aprendi a dizer
muitas frases destas novas linguagens!