quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Reflexão final




A Biblioteca Escolar 2.0 (Formação presencial e on-line)
         Quando decidi frequentar esta ação nesta área específica da Biblioteca Escolar fi-lo com a consciência de que empreenderia um caminho que me obrigaria a um investimento considerável do ponto de vista pessoal e profissional, facto que me deixou algo apreensiva. As razões de tal facto prendem-se com as variadas experiências que tenho tido ao longo da minha vida profissional e pessoal com as tecnologias da informação e os sucessos e percalços que a ela têm estado associados. O meu meio século de existência permitiu-me acompanhar o evoluir dessa maravilha que são as tecnologias da informação e comunicação, desde os tempos dos quilómetros de fios nos andares refrigerados da Rádio Marconi, que tinha então o monopólio das transmissões civis, sediada próximo do Mercado da Ribeira. Tinha, então, 15 anos e, para a área em que estudava, deveria conhecer o então centro nevrálgico das telecomunicações nacionais.
Mal sabia eu que aquela visita de estudo tinha sido apenas o aperitivo para o novo caminho que a minha geração teria de percorrer ao longo da vida. Às vezes penso nisso e tomo consciência de que a minha inquietação começou muito cedo. Talvez demais.
Em 1981, na Faculdade de Letras, no meu 3º ano de curso e numa cadeira perfeitamente esperada, Sintaxe e Semântica do Português, Chomsky e as suas arqui-estruturas da linguagem, a lógica de predicados e muitos outros conceitos perseguiam, para nosso espanto, a nossa inconfundível Professora que preparava o Doutoramento na área da Linguística e Computação. Conversávamos sobre tal fenómeno e do seu objetivo em pôr um computador a “falar” ou, como nós ríamos, a dizer “Gugugaga”. A organização das estruturas de significação, os níveis de realização e a lógica dessas mesmas estruturas foram trabalhadas até à exaustão e todos nos sentimos participantes do projeto idealista daquela doutoranda magrinha, fumadora compulsiva e cujos vestígios do vício enfeitavam a secretária como um campo de “piriscas semeadas” na madeira. Afinal, tratava-se de encontrar uma gramática que pudesse contribuir para pôr um computador a falar!
No Técnico (IST), os colegas usavam uns cartões estranhos, perfurados, que nunca percebi muito bem para que efetivamente serviam. De facto, estávamos mesmo muito longe do mundo de hoje! A diversidade, a transversalidade do uso de tudo (software, hardware…) fazem parecer os nossos organigramas desenhados a régua com tanto esmero autênticos gatafunhos rupestres.
Não, agora só não aprende quem não quiser ou não puder! Há já vários anos que se vem investindo em formação (paupérrima no início) e em equipamentos (um computador por escola, quando calhava). Existiram o Instituto de Tecnologia Educativa e os seus especialistas, a Tele-Escola, o Projeto Minerva e… as coisas foram crescendo. Gradualmente, os projetores de slides, os projetores de opacos, os retroprojetores de transparências ou acetatos, os vídeos caseiros, que nos levaram horas de formação, foram sendo ultrapassados por meios que propiciam outro tipo de relação mais rápida, mais eficaz, mais abrangente.
Tudo correu e continua a decorrer a uma velocidade tão estonteante que o mundo que se vai abrindo, criando e impondo-se-nos todos os dias me obrigou ao desafio desta formação.
         Os conceitos associados ao novo modo de entender a Web, como por exemplo, a maior liberdade de escolha, a personalização dos meios e da interação que proporcionam, as novas oportunidades de perscrutação, a maior possibilidade de colaboração, partilha e envolvimento, a componente de entretenimento imediato que proporciona a par da inovação permanente foram aspetos que encontraram eco nos múltiplos documentos, aplicativos, tarefas, visualizações e experimentações que foi possível realizar ao longo destas sessões de trabalho.
         O conhecimento atual já se não pode guardar num edifício como outrora, ele é abundante, em evolução constante, está em múltiplos suportes e espaços de organização e disseminação tão diversos, exige processos rápidos de produção e distribuição, exige obviamente aprendizagem permanente.
         Tudo isto fez desenvolver interfaces ricas e fáceis de usar cujo sucesso do aplicativo depende do maior número de utilizadores; têm, por isso, de ter uma estrutura participativa de modo a incentivar os utilizadores a participar nas redes de informação, enriquecendo o sistema; por outro lado, dada a quantidade de informação acessível, é imperiosa uma maior facilidade de armazenamento de dados e criação de conteúdo. É este o mundo que se abre todos os dias, é o mundo da Web 2.0.
         Naturalmente que se colocam questões relacionadas com o software, mas estes ultrapassam-se, pois o modo como o conhecimento está organizado, os sítios e o software estão ligados sob a forma de mashups, e isso obvia qualquer dificuldade. Os aplicativos e os conteúdos ao estarem disponíveis quer online quer offline também facilitam o momento e a forma de exportação.
         Inerente ao conceito de Web 2.0 e por consequência BE 2.0 está a existência de grandes comunidades de interesses que, colaborativamente, mudaram a forma de aprender e, obviamente, de ensinar. Todos, e também alunos e professores, podem aceder em simultâneo aos mesmos conteúdos, bastando conhecer minimamente algo da semântica da Web.
         Em contexto educativo, são tão claras as vantagens destas ferramentas, conteúdos, atitudes que quase não vale a pena dizê-lo. Se já tinha amigos alunos no Facebook com os quais conversava, por vezes sobre a matéria, fazê-lo de modo organizado, estimulando o surgimento de pequenos grupos, faz mais sentido. Transportar esse trabalho para outro patamar mais ambicioso, criar situações de aprendizagem estimulantes, dentro e fora da sala de aula, exercitar as ferramentas aprendidas (foram tantas…) e pô-las ao dispor da aprendizagem (no mais amplo sentido do termo) dos nossos alunos, dos nossos colegas, da comunidade … é o que se pode esperar como corolário deste percurso.
         Alguns já fazem parte da nossa prática diária (uso do moodle, de redes sociais –facebook - blogues, slideshare, entre muitos outros), mas muito há para fazer.
         Tudo tem evoluído em catadupa, sem que nem todos tenhamos tempo, capacidade, condições para acompanhar esta grande revolução. Afinal, a idade vai pesando, a profissão vai convivendo com a desilusão e o agravamento das condições de trabalho de tal modo que para um não nativo digital como eu, as coisas são por vezes difíceis. Mas, como diz o cantor, “há sempre alguém que resiste” e nisso, afirmo sem pudor, sou doutorada. Aliás, a nossa geração é especialista em estar em aprendizagem permanente.
Mas, de facto, houve descobertas, aprendizagens muito importantes que ocorreram e dessas jamais me esquecerei. E as mais importantes foram as perspetivas que se alargaram e as janelas que se abriram para outros voos. Porque, recriando um dizer de Mia Couto:
                               “Burro velho às vezes aprende línguas”
                                                                                             Desditado Popular


                                    E eu aprendi a dizer muitas frases destas novas linguagens! 



                  
                                                                                                 

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