O
texto sobre o qual nos foi pedido um comentário reflete, a meu ver,
preocupações que são transversais a vários domínios da vida moderna e, como
tal, não poderiam deixar de afetar indelevelmente a escola.
Segundo sintetizam CUNHA,
T. e FIGUEIREDO, M. (2012), no texto referenciado na bibliografia de suporte a
esta tarefa, “ A evolução
tecnológica acontece atualmente a um ritmo vertiginoso, o Homem acompanha esta
evolução não como mero espetador mas como ator participante, o seu modo de
pensar, de agir, de refletir vai seguindo esta evolução, criando um descompasso
entre aqueles que acompanham a mudança e aqueles que já fazem parte dela
naturalmente.”
Deste modo, dentro da escola,
também se encontram os que acompanham a mudança e os que se acomodam por inação
ou por receio, originando assim a existência de uma crise que já é visível no
sistema de há algumas décadas: os professores têm um discurso e umas práticas
que os alunos não entendem e estes têm apetências e gostam de coisas que os
tornam indiferentes ao que os professores lhes pretendem transmitir. É o
diálogo de surdos entre gerações que não conseguiram caminhar lado a lado, é o
que a literatura refere como o fosso existente entre os nativos digitais (os
que já nasceram na era da Web) e os
imigrantes digitais (os outros, do tempo da rádio, da TV,… nós que nascemos
antes de 1990…). Que fazer, como fazer para que a escola não seja brevemente um sistema obsoleto, onde já nem para conviver os alunos quererão ir? Que papel caberá neste panorama àquilo que tem sido a conquista da Web 2.0 (ou futuramente da 3.0 ou 4.0) no quotidiano dos alunos e que pode ser pedagogicamente trabalhado, reaproveitado de modo a fazer dos seus utilizadores participantes ativos na construção do conhecimento? É preocupação fundamental do texto sistematizar hipóteses, apontar caminhos, contrastar práticas antigas e mostrar as vantagens do que é novo.
Conforme o texto em análise acrescenta, em vez de um repositório, a Web 2.0 é uma plataforma, que tem na base a participação dos seus utilizadores que lhe acrescentam um valor que cresce todos os dias e que fica integrado na estrutura da redes assim que outros utilizadores o descobrem e utilizam. É o que o autor chama cérebro global, metáfora interessante para um fenómeno que pode ter a sua origem não se sabe onde nem por quem é iniciado. Muito ao contrário do seu homónimo, o outro, o cérebro humano, máquina tão perfeita que só um “Deus”(?) poderia conceber.
Ora a Biblioteca 2.0, irmã gémea da Web 2.0, não poderia deixar de colocar as mesmas questões tão fundamentais como as que se colocam com a existência da Web 2.0 no quotidiano da sociedade comum, acrescida da responsabilidade do papel que ocupa na vida da escola hoje.
Hoje, a BE é já o espaço de muitas das boas
de aprendizagens que acontecem na escola. Mas o desafio é imenso. É de facto
necessário um grande esforço, por vezes, de “desaprendizagem”, para otimiza a BE
e tirar partido das características que a definem enquanto Biblioteca
2.0: ser centrada no utilizador, disponibilizar experiências multimédia, ser
socialmente rica pelo tipo de experiências que proporciona e inovadora nas
relações que estabelece com a comunidade. Alguns destes aspetos já não nos são
estranhos, outros obrigarão a mudanças radicais de conceção das nossas
práticas. E digo nossa, pois nelas incluo todos os atores da escola.
Pela
experiência que possuo, não na área da BE em que sou novata, mas noutras, são
inúmeras as questões a equacionar e elas podem implicar vários domínios. Para
além dos já equacionados no texto ao nível da infra-estrutura tecnológica e
humana, da complexificação da gestão e competências do professor bibliotecário
entre outros, creio que sem que haja uma real “sacudidela” nas mentalidades e atitudes dos profissionais de
educação face aos avanços tecnológicos, sem que haja um reconhecimento assumido
no domínio das políticas educativas sobre a alteração do paradigma do
conhecimento, que já não acontece só dentro da sala de aula, sem o necessário
reconhecimento por parte dos órgãos de gestão da escola da importância das
alterações de funcionamento que a Biblioteca 2.0 obriga, sem que haja um
conjunto de fatores externos à dinâmica da própria BE, o esforço terá de ser
redobrado.
Mas
não impossível!
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